Feira Potiguar: acesso a mercados e fomento à Agricultura Familiar

A mecanização agrícola adaptada à realidade da agricultura familiar no Nordeste brasileiro é uma pauta que vem sendo discutida desde 2020 pela Câmara Temática do Consórcio Nordeste, que reúne gestores e gestoras dos nove estados da região e agora, a partir da recriação do MDA, ganha o envolvimento do governo federal. No centro desse processo está o Rio Grande do Norte, especialmente o município de Apodi.

Foto: Sandro Menezes

Olha a roda. No meio da exposição de produtos da agricultura familiar do Rio Grande do Norte, entre alimentos frescos, agro industrializados e artesanais, é possível ouvir aquele burburinho típico de gente feliz reunida. É o momento em que cada expositor da primeira edição da Feira Potiguar da Agricultura Familiar e Economia Solidária, realizada no Centro Administrativo do Estado, em Natal, entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro, faz a troca de produtos.

É um estímulo à troca solidária sem necessariamente usar dinheiro, promovendo cooperação e solidariedade, permitindo que todos na feira levem um pouco de cada um para casa”, explica Maria Catiana Barbosa da Silva, do munícipio de São Miguel do Gostoso, assentamento Arizona.

Troca solidária | Foto: Jana Sá

Com o objetivo ampliar o acesso a mercados, fortalecer a luta pela segurança alimentar e fomentar a agricultura familiar, a feira buscou estimular o cooperativismo solidário e o processo de comercialização das famílias agricultoras do Rio Grande do Norte.

É o caso da Jaqueline Lobo, 37 anos, cooperada da COOAP, que comercializa produtos orgânicos e da agricultura familiar, como farinha de mandioca, feijão branco, goma fresca, óleo de coco e mel. A produção é feita por municípios da região Mato Grande e da Grande Natal.

Produtos da COOAP | Foto: Jana Sá

Esta feira é uma iniciativa muito boa para nós cooperados e também para as famílias assentadas. As cooperativas representam essas famílias, esses microempreendedores, esses camponeses que têm sua produção, mas não têm mercado para comercializar. Esta, em particular, tem sido um sucesso, é lindo de ver. Precisamos valorizar nosso povo, especialmente os camponeses, que proporcionam qualidade de alimentação saudável. Devemos recompensá-los levando adiante sua produção e promovendo mais feiras como esta, mais empreendimentos para trazer mais recursos e também fortalecer nossos assentamentos, ampliando a produção que está sendo realizada“, avalia Jaqueline.

Assim como ela, Francimária Santos da Costa, da Comunidade Quilombola Picadas, em Ipanguaçu, ver na feira uma oportunidade de ampliar a comercialização dos produtos e expandir o mercado.

Está sendo uma oportunidade, porque além de trazer nossos produtos, tronamos conhecida nossa história, pois a feira é um espaço para compartilhar essa história. As pessoas podem conhecer tanto o artesanato quanto os produtos da agricultura familiar, e também contribui para trazer a sociedade e as pessoas para visitar a comunidade”, comemora Francimária.

Francimária Santos da Costa, da Comunidade Quilombola Picadas | Foto: Jana Sá

Francimária levanta, contudo, as dificuldades enfrentadas pela sua comunidade, distante 224 km da capital potiguar. “Morar no quilombo hoje não é fácil, então imagina a gente trabalhando e as pessoas reconhecendo que estamos fazendo a diferença no quilombo“.

Ao todo, 58 empreendimentos da agricultura familiar e da economia solidária comercializaram mais de 2 toneladas de alimentos em quatro dias de Feira, além vila gastronômica e estandes institucionais, distribuídos em mais de 2.500 metros quadrados na sede do governo estadual. O evento também teve lançamento de livros, palestras e atrações culturais.

As feiras são eventos que proporcionam muita formação. A feira consegue dialogar efetivamente com a sociedade civil, abordando a mentalidade e destacando a importância da agricultura camponesa em contraposição ao modelo capitalista e ao agronegócio”, define Jonh David, militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Rio Grande do Norte, que está no estande da editora Expressão Popular.

Jonh David, militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Rio Grande do Norte Foto: Jana Sá

O evento contou com investimento via projeto Governo Cidadão, com recursos do acordo de empréstimo com o Banco Mundial. A programação cultural da Feira Potiguar foi coordenada pela Fundação José Augusto, em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, com o nome “Festival do MST: por terra, arte e pão!”.

Nosso festival é o primeiro que está acontecendo aqui no Rio Grande do Norte. Ele carrega o nome Festival do MST por terra, arte e pão, com o objetivo de dialogar com a sociedade natalense através da arte e cultura, dialogando sobre a reforma agrária, alimentação saudável e o papel do MST, que completa quarenta anos este ano”, explica Érica Rodrigues, da direção estadual do movimento. 

Com shows de Odair José, Cátia de França, Santanna, o Cantador, Nação Zumbi, Karina Buhr e Academia da Berlinda, dentre outras atrações, Érica explica que “o festival é o acúmulo de todo o processo de organização e diálogo com a sociedade. Temos o objetivo claro de colocar a pauta da reforma agrária para o conjunto da sociedade e também para o povo do campo, entendendo que esse debate é sobre campo e cidade. Então, é um grande encontro que acontece nacionalmente, sendo um circuito nacional, já ocorrendo no Paraná e no Rio de Janeiro, e agora estamos encerrando o ano com o nosso aqui no Rio Grande do Norte”.

A Fepafes é realizada em parceria com a União das Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária (Unicafes-RN), com apoio do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RN), da Agência de Fomento do RN (AGN), da Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e Assistência Social (Sethas) e do Sistema Ocern (Organização das Cooperativas do RN). O evento conta ainda com apoio institucional do Governo Federal, por meio do Banco do Nordeste e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).

Ações do Estado

Durante o evento, o Governo do RN deu início ao processo de mecanização da agricultura familiar no Estado. No sábado (02), a governadora Fátima Bezerra entregou os primeiros 12 kits de maquinário para atender as famílias do projeto Algodão Agroecológico Potiguar. Os kits são compostos por motocultivador e roçadeira movidos a gasolina e pulverizador costal. O investimento é no valor de R$ 290 mil, proveniente de emenda ao orçamento geral do Estado de autoria da deputada Isolda Dantas.

Foto: Sandro Menezes

Avançamos na pauta da mecanização e com imensa alegria vejo aqui agricultoras e agricultores, cooperativas do setor e diversos segmentos sociais. A mecanização reduz o esforço físico do trabalho no campo e permite aumentar a produção com menor esforço e tempo de trabalho empregado. Estes 12 kits é só o começo. Vamos realizar o maior investimento na agricultura familiar do Nordeste. Junto com o Governo Federal vamos aplicar mais de R$ 1 bilhão para todo o Nordeste e R$ 151 milhões só no RN para atender 38 mil famílias em uma grande ação dentro projeto  Sertão Vivo que também visa combater os efeitos das alterações climáticas“, afirmou a governadora Fátima Bezerra.

A mecanização agrícola adaptada à realidade da agricultura familiar no Nordeste brasileiro é uma pauta que vem sendo discutida desde 2020 pela Câmara Temática do Consórcio Nordeste, que reúne gestores e gestoras dos nove estados da região e agora, a partir da recriação do MDA, ganha o envolvimento do governo federal. No centro desse processo está o Rio Grande do Norte, especialmente o município de Apodi.

Atualmente, cinco empresas chinesas estão enviando mais de trinta máquinas que serão testadas no Brasil, com um investimento total estimado em mais de R$ 2 milhões. Essas máquinas irão beneficiar diretamente as famílias agricultoras e terão um impacto positivo na produção de alimentos.

A governadora também assinou decretos nº 33.205, de 2 de dezembro de 2023, que regulamenta a Lei Estadual nº 11.361, de 17 de janeiro de 2023, criando o Programa Estadual de Documentação da Mulher Trabalhadora Rural, e o de n.º 33.206, também de 2 de dezembro de 2023, que aprova o Plano Estadual de Juventude e Sucessão Rural do Rio Grande do Norte para o período de 2023 a 2033.

Estas iniciativas, assim como a realização da Primeira Feira da Agricultura Familiar expressam o avanço da cidadania, do reconhecimento de direitos e o acerto dos programas adotados pelo governo, que, em muitos casos são políticas de Estado, visando fortalecer este setor que produz de forma sustentável e coloca alimento saudável na mesa do brasileiro“, registrou Fátima Bezerra

Priorização das mulheres e famílias do Programa Algodão Ecológico Potiguar

O secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf), Alexandre Lima, disse que os kits inicialmente vão priorizar as mulheres e famílias do programa Algodão Ecológico Potiguar que envolve mais de 700 famílias, assim como a rede Xique-xique, cooperativas, Diaconia/Acopasa, MST e Emater. E é só início por que vamos tornar o RN referência no Brasil em tecnologia para Agricultura Familiar”, declarou.

Alexandre Lima ressaltou o sucesso da Primeira Feira da Agricultura Familiar e Economia Solidária. “A feira é sucesso total de público e de comercialização. Eram esperadas 12 mil pessoas, mas passou dos 20 mil e toda a produção ofertada foi comercializada. Na Feira também foram assinados decretos que regulamentam documentação da mulher e a sucessão rural para a juventude, importantes medidas que acompanham o início do processo de mecanização e modernização da agricultura familiar”, pontuou.

Para a deputada estadual Isolda Dantas, “a valorização da Agricultura Familiar é debate antigo e só na gestão da governadora Fátima Bezerra teve a atenção que precisa. A mecanização reduz o esforço físico do trabalho e permite melhores resultados com mais renda e dignidade à trabalhadora e ao trabalhador do campo“.  A deputada federal Natália Bonavides lembrou que o Governo do RN é o primeiro no país a comprar para os hospitais públicos produtos da Agricultura Familiar. “Isto também faz parte da luta para fortalecer a agricultura familiar e a produção de alimentos saudáveis de forma sustentável“.

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Jana Sá

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