RN tem o 4º menor número, no Nordeste, de investidores na Bolsa

Na divisão de contribuições, o Rio Grande do Norte é responsável por 0,46 % dos R$ 483,08 bilhões de investimentos do País - Foto: Daniel Teixeira / Estadão conteúdo/arquivo

Kayllani Lima Silva
Repórter

No Rio Grande do Norte, apenas uma em cada 43 pessoas da população economicamente ativa (PEA) investe na Bolsa de Valores do Brasil (B3). Em números absolutos, o Estado conta com 2,3 milhões de pessoas de 15 a 65 anos, mas apresenta somente 54.037 investidores de títulos variáveis. Na divisão de contribuições, o território potiguar é responsável por 0,46 % dos R$ 483,08 bilhões de investimentos do País, com o quarto menor percentual de participação e número de investidores no Nordeste e a nona menor porcentagem a nível nacional. Na avaliação de Renato Gurgel, professor do Departamento de Ciências Contábeis (DCC) da UFRN e coordenador da Liga de Mercado Financeiro da instituição, embora a participação tenha aumentado a partir de 2018, o crescimento de investidores do Estado ainda exige mais estímulos à educação financeira e geração de emprego e renda.


Os dados têm como base o levantamento de investidores pessoas físicas realizado pela B3 e atualizado neste mês e os números do IBGE correspondentes ao ano de 2022. Na avaliação do docente, embora a educação financeira seja essencial da base à educação superior, essa aprendizagem ainda não é uma prioridade em boa parte das instituições. Aliado a isso, o cenário de endividamento também retira das pessoas a capacidade financeira exigida para investir. Segundo dados do mapa de inadimplência e renegociação de dívidas do Serasa, referente ao mês de setembro, o Rio Grande do Norte ocupa a 3ª posição entre os estados do Nordeste com maior percentual de pessoas inadimplentes, com 41,54%.


No panorama nacional, o percentual sobe para 43,90%. “Não tem como investir estando endividado porque você está ali ‘matando um leão a cada dia’. Então a primeira coisa que a gente precisaria para melhorar esse dado [investimentos do RN na B3] seria formar cidadãos com uma boa educação financeira”, ressalta Renato Gurgel. O argumento do docente se faz ainda mais necessário ao observarmos, por exemplo, o cenário recente de casos tanto locais quanto externos ao Estado de pessoas que confiaram seus recursos a empresas suspeitas de atuações fraudulentas.


Para não cair em esquemas de pirâmides financeiras, o professor Renato Gurgel explica que há dois caminhos na hora de investir: bancos e corretoras que estão vinculadas a bancos. “Quando aparecerem empresas prometendo lucros acima de quaisquer renda fixa já existente no mercado, informando que ele é garantido e em um ano você duplicaria seu dinheiro, isso não existe”, complementa. Ainda, segundo ele, a falta de vínculos com bancos e a promessa de que o investimento não tem risco também são indicativos de alerta o professor.
Em paralelo a formação de investidores mais conscientes, Renato Gurgel reitera que o crescimento da atividade econômica no Estado permite a maior circulação de recursos locais e inserção da população no mercado de trabalho. Apesar dos desafios, observa, o Estado vem acompanhando o crescimento gradual do interesse da população pela área de investimentos.


Na pandemia, sobretudo, o isolamento social levou as pessoas a gastarem menos com lazer e investir suas economias. Nesse período, como a renda fixa estava com menor rentabilidade, outros investimentos entraram no radar, com destaque para os fundos de investimentos mobiliários presentes na bolsa de valores. A modalidade funciona na mesma lógica de um aluguel, mas no lugar de comprar um imóvel, o investidor compra um título.


A bolsa de valores brasileira, esclarece o docente, constitui um mercado seguro em que várias empresas procuram negociar as suas ações e outros títulos de renda variável. Para chegar aos investidores, no entanto, é preciso a intermediação de uma corretora. “A corretora faz a intermediação entre a B3, empresa e investidor. Então os bancos, por exemplo, geralmente tem uma corretora e quando procuramos a opção de investir, vai ser questionado se você quer renda variável ou fixa”, esclarece. A depender da escolha, são indicadas alternativas correspondentes ao perfil de cada pessoa no mercado.

Especialista detalha perfil de investidores

Renato Gurgel defende a educação financeira como fundamental – Foto: Cedida

O professor Renato Gurgel esclarece que há dois perfis principais de investidores: os agressivos e os conservadores. No caso deste último, os investimentos mais recomendados são os de renda fixa, como poupança e Certificado de Depósito Interbancário (CDI), uma vez que tratam-se de opções com menores chances de perdas dos valores investidos. O especialista adverte que há casos nessa modalidade com maiores riscos. É o caso das chamadas “debêntures”, ou seja, emissão de títulos de dívidas pelas empresas inseridas na B3. Neste caso, exemplifica, um investidor compra uma dívida para receber um valor maior de retorno a longo prazo.


Os investidores mais agressivos, por sua vez, costumam investir na renda variável, a exemplo das ações e criptomoedas, presentes na B3. Embora alguns títulos tenham mais constância nos valores, podendo ser alvo de pessoas moderadas no mercado financeiro, o principal aspecto dessa modalidade são as mudanças que acontecem conforme as dinâmicas de mercado. “A gente não pode investir em renda variável sem antes ter uma boa reserva em renda fixa. A renda variável pode subir e descer, então você não pode investir nela contando com o dinheiro para pagar uma conta ou empréstimo”, explica.


O ideal é que as pessoas façam um planejamento para ter segurança na hora de ‘arriscar um pouco mais para ganhar um pouco mais’. O estudo também é peça-chave na formação de um bom investidor, seja por cursos, ou acesso a plataformas confiáveis que contratam analistas e podem indicar as melhores ações para o perfil do investidor.

Sinais de alerta para não cair em golpe de traders

Os recentes casos casos de golpes dos chamados “traders”, que contabilizam prejuízo milionário aos clientes, acendem o alerta para que aqueles que desejam investir no mercado financeiro estejam atentos à legalidade do serviço de empresas que se apresentam como facilitadoras de retorno imediato e altos percentuais de rendimentos. No mercado financeiro, trader se refere a uma pessoa que realiza transações na Bolsa de Valores, em especial no curto prazo e que se dedica diariamente a essa atividade.


A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) alerta que é possível o investidor identificar situações que possam levar a possíveis golpes e, assim, evitar o negócio. Para começar, todos os participantes do mercado que possuem registro junto à autarquia podem ser consultados no Cadastro Geral de Regulados, disponível no Portal da CVM.


“Reiteramos que, antes da tomada de decisão de investimento, é importante que o investidor verifique se a instituição possui registro na CVM e avalie a procedência das informações recebidas, e que não acredite em promessas de retornos elevados, rápidos e com baixo risco, características comuns em esquemas irregulares”, alerta a comissão. Entre as orientações, o cliente deve ficar atento ao CNPJ das empresas, procurando informações sobre a sua atuação no mercado.


O investidor pode buscar a autarquia nos canais de atendimento (https://www.gov.br/cvm/pt-br/canais_atendimento/consultas-reclamacoes-denuncias) e também conferir os alertas emitidos por ela sobre ofertas/atuações irregulares no mercado.

Bate-papo

“Para investir é preciso criar o hábito de poupar”

Manuele Medeiros/ Especialista em finanças – Foto: Cedida

Quais são os passos para que pessoas físicas possam começar a investir? Como calcular o valor ideal para iniciar esse processo?
Para começar a investir é preciso criar o hábito de poupar. O primeiro passo é ter visibilidade e planejamento do orçamento. O primeiro investimento deveria ser a reserva de emergência, equivalente a 6 meses dos gastos essenciais, e a sugestão é que esse montante seja em investimentos de renda fixa e com alta liquidez, como por exemplo: CBD, Tesouro, LCA e LCI.

Para quem ganha um salário-mínimo e apresenta uma renda mais comprometida, como os investimentos podem ter início?
Para uma vida financeira saudável, organização é essencial em todos os momentos, especialmente se você possui uma renda mais comprometida. Ter suas contas na ponta do lápis é a chave para o caminho certo e te dará mais segurança. Para quem ganha um salário-mínimo, o investimento inicial que indico é sempre de qualificação profissional, para que você tenha a oportunidade de aumentar sua renda ou agregar valor ao seu serviço, levando a um incremento de renda a médio ou longo prazo. É importante lembrar, também, que, independente do valor da sua renda, o comprometimento precisa estar no máximo no limite dela, ou seja, 100%. O que percebo é que algumas pessoas têm comportamentos financeiros que prejudicam sua saúde financeira, comprometendo acima de 100% do orçamento, o que reflete que a pessoa está vivendo uma vida que não pode bancar.

O que um planejamento financeiro deve contemplar para que seja possível realizar um investimento?
Para iniciar um planejamento financeiro, o que você pode fazer é um levantamento da sua renda e de todos os seus gastos, separando-os por categorias: essenciais (ex: conta de luz) e não essenciais (ex:entretenimento). Como dica para quem quer investir, sugiro deixar os gastos essenciais em 70% da renda, os não essenciais em 20% e os investimentos em 10%. Ou seja, se uma pessoa ganha R$ 1.000,00, deveria se organizar com suas contas essenciais em R$ 700,00, os gastos com lazer em R$ 200,00 e a poupança ou investimento em R$ 100,00.

TN

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